Soldados con el chumbo en la mano y elecciones en Brasil

#TeDigoQueSeSiente

Solía pensar que existían grandes diferencias respecto a cómo los brasileños y los argentinos –en general- nos relacionábamos con la política. En Brasil los argentinos tienen fama de ser muy politizados. Y sí, lo son. La primera vez que percibí el grado en el que lo eran fue en un seminario al que asistí sobre políticas públicas. Para mi absoluta sorpresa las personas para presentarse, luego de dicir el nombre y el lugar de origen, contaban cuál era su identidad política: “Juan Pérez. De Villa Domínico y peronista”, “María García. De Banfield y Kirchnerista”.

Me pareció surreal. Sentí que formaba parte de una escena de una película Buñuel. Aquella suerte de sinécdoque utilizada para presentarse me anticipó algo que después se convertiría en cotidiano: las cíclicas discusiones entre kirchineristas y anti-kirchineristas.

Debo admitir que siempre me irritó bastante aquella disputa. No por el hecho de la discusión política en sí, si no por escuchar y leer las barbaridades que las personas compartían en las redes sociales sin ningún tipo de sentido crítico. Sólo para justificar su posición o elección partidaria. Eran pocos -al menos los de mi limitada muestra- los que lograban y logran tener posiciones sanamente equilibradas. O sea, señalar lo malo y rescatar lo bueno.

Sin embargo, toda aquella carga emocional, identitaria y, por momentos, irracional que sentía ajena y distante se tornó más cercana a partir de estas elecciones en Brasil. De hecho, desde que la campaña comenzó mi timeline de Facebook se convirtió en un verdadero campo de batalla con golpes de la más baja calaña.

Otra vez recordé que brasileños y argentinos no somos tan diferentes. Compartimos la adicción por los fanatismos, los discursos maniqueos, la persuasión a través del temor y, sobre todo, los boludos con capacidad y formación que repiten sin saber o sin querer saber.

No estoy segura de si ésta es una condición binacional o es una universal, pero el impacto de las campañas políticas en las personas es mucho más profundo de lo que a priori imaginaba.

Me impresiona cómo por un lado nos rasgamos las vestiduras hablando de corrupción, de mentiras y de falta de transparencia, pero terminamos haciendo exactamente lo mismo cuando usamos datos manipulados para intentar “ganar” una discusión. Cuando compartimos una información que sabemos que no es cierta. “Capaz zafa. Algún salame se la compra seguro”.

Tres días atrás recibí dos mensajes por whatsapp. El primero decía que Interpol y el FBI habían interceptado un plan para instaurar una dictadura en Brasil si gana el Partido de los Trabajadores (PT) de Dilma Rousseff. El segundo aseguraba que se había filtrado un documento que decía que se iban a eliminar todas las políticas de subsidios en Brasil si gana Aécio Neves. ¿Realmente? ¿5 días antes de las elecciones? mmm.

Pero estas cosas -por más irreales que parezcan- trascienden e impactan. Por ejemplo, un rumor de similares características que afirmaba que si gana Dilma limitará la libertad expresión llegó a la Argentina y fue levantado por el Diario La Nación en una editorial del día 23 de octubre. Obviamente en forma de condicional.

Pareciera que cualquier cosa vale con tal de que mis valores se impongan. Particularmente, creo que no existe una actitud más autoritaria que esa. La pena es que al final del día la competencia entre candidatos se transforma en una competencia contra tu primo, tu amigo, tu hermano, tu profesor de yoga o el cura de la esquina. Llega un punto en el que comenzás a preguntarte cómo puede ser que aquella persona piense así…¡No! Peor aún: ¡cómo pudiste vos compartir tantos momentos felices con ella! Con esa persona que tiene la libertad para votar a otro candidato distinto que el tuyo y de creer en otras prioridades. ¡Qué absurdo!

Para ganar la discusión, convencer a quienes no están convencidos o manipular a aquellos que no tienen idea nos convertimos en soldaditos de plomo con un chumbo en la mano. Seguimos órdenes sin que nos la den, compartimos material de campaña sin que nos lo pidan y manipulamos datos por soberbia.

Cuando empezamos a hacer eso no somos mejores que aquél a quien acusamos de corromperse. Somos mentirosos nosotros. Somos manipuladores nosotros. Somos corruptos nosotros. Y por sobre todo, caemos presos de nuestro propio autoritarismo, aunque nos esforcemos por ocultarlo bajo el escudo de nuestras ideologías.

 

 

Soldadito

 

 

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Soldadinhos com o chumbo* na mão e as eleições no Brasil

Eu costumava pensar que havia grandes diferenças na forma como brasileiros e argentinos, em geral, nos relacionávamos com a política. No Brasil, os argentinos têm uma reputação de ser altamente politizados. E sim, eles são. A primeira vez que percebi o grau de seriedade que tinham com a política, foi num seminário sobre políticas públicas que assisti. Para minha surpresa, as pessoas depois de fornecer informações sobre o seu nome e sua cidade fechavam com sua identidade política: “Juan Perez. De Villa Domínico e peronista “,” Maria Garcia. Banfield e kirchnerista. ”

Parecia surreal. Eu sentia que fazia parte de uma cena de um filme do Buñuel. Esse tipo de sinédoque usada para se apresentar, me antecipou algo que depois se converteria em algo cotidiano: as cíclicas discussões entre kirchineristas e anti-kirchineristas.

Devo admitir que essa disputa sempre me irritou bastante. Não pela discussão política em si, mas por ler e escutar as barbaridades que as pessoas compartilham nas redes sociais sem nenhum senso crítico. Só para justificar sua posição e escolha partidária. Eram poucos –ao menos da minha limitada amostra- os que conseguiam e conseguem ter posições equilibradas. Ou seja, apontar o que há de ruim e resgatar o que há de bom.

No entanto, toda aquela carga emocional, identitária e, por momentos, irracional que sentia alheia a mim, se tornou mais próxima com essas eleições no Brasil. Desde que a campanha realmente começou minha timeline se converteu em um verdadeiro campo de batalha com golpes do mais baixo escalão.

De novo me lembrei que brasileiros e argentinos não são tão diferentes. Compartilhamos o vício pelo fanatismo, os discursos maniqueístas, a persuasão através do medo e, sobretudo, os idiotas com capacidade e formação que mesmo assim repetem, sem saber ou sem querer saber.

Não tenho certeza se essa é uma condição binacional ou universal, mas o impacto das campanas políticas nas pessoas é muito mais profundo do que eu imaginava.

Me impressiona como por um lado rasgamos as vestes falando de corrupção, de mentiras e de falta de transparência, mas terminamos fazendo exatamente a mesma coisa quando manipulamos dados para tentar “ganhar” uma discussão. Quando compartilhamos uma informação que sabemos não ser certa.  “Talvez cole. Talvez algum bobo acredite”.

Três dias atrás, recebi duas mensagens por whatsapp. A primeira dizia que a Interpol e o FBI tinham interceptado um plano que pretendia instaurar uma ditadura no Brasil caso o Partido dos Trabalhadores, de Dilma Rousseff, ganhasse as eleições. A segunda mensagem, alegava que tinham vazado documentos que diziam que se o candidato Aécio Neves ganhasse, todos as políticas de subsidio no Brasil seriam eliminadas. Sério? A cindo dias da eleição?

Essas coisas – por mais irreais que pareçam- transcendem e impactam. Por exemplo, um rumor de características similares chegou a Argentina e foi levado a sério pelo Jornal La Nación que publicou um editorial no dia 23 de outubro, sugerindo que caso ganhe Dilma Rousseff a liberdade de expressão estaria ameaçada no Brasil.

Parece que vale tudo, contanto que meus valores se imponham. Particularmente, acho que não existe uma atitude mais autoritária que essa. A lastima é que no final do dia a competição entre candidatos se transforma em uma competição com seu primo, seu amigo, seu irmão, seu professor de yoga e o padre da paróquia. Chega um ponto em que começamos a nos perguntar como pode ser que aquela pessoa pense assim…Não! Alguns vão mais longe: como pude eu compartilhar tantos momentos felizes com ela?! Com essa pessoa que tem a liberdade para votar a outra pessoa diferente da minha e que acredita em outras prioridades. Que absurdo!

Para ganhar a discussão, convencer a quem não está convencido ou manipular aqueles que não tem ideia, nos convertemos em soldadinhos de chumbo com o “chumbo” na mão. Seguimos ordens sem que nos deem, compartilhamos material de campanha sem que nos peçam e manipulamos dados por pura arrogância.

Quando começamos a fazer isso não somos melhores que aquele que acusamos de corromper-se. Nós somos mentirosos. Nós somos manipuladores. Nós somos corruptos. E sobretudo, caímos presos no nosso próprio autoritarismo, mesmo que nos esforcemos para ocultá-lo baixo o escudo de nossas ideologias.